O embaixador Rubens Barbosa, em sua participação no Encontro Virtual do projeto O Brasil Precisa Pensar o Brasil realizado na terça-feira, 1º de abril, apresentou uma proposta para que o Brasil trace um projeto estratégico nacional, com uma visão de longo prazo que seja independente de governos e ideologias. A ideia central do discurso foi a elaboração de um documento de Estado, focado no reposicionamento do país no cenário global, que sirva de guia para políticas públicas e decisões futuras, além de garantir maior coesão interna.

O embaixador iniciou sua participação destacando a inspiração proveniente de outras nações como a Índia e o México, que traçaram objetivos claros e prazos definidos para alcançar o desenvolvimento. Segundo Barbosa, a Índia, ao comemorar os 75 anos de sua independência, fixou como meta tornar-se um país desenvolvido até 2047. Já o México, por sua vez, se comprometeu a se tornar uma das 10 maiores economias do mundo até 2024. “Esses exemplos me estimularam muito”, afirmou, destacando a urgência de o Brasil também definir seu lugar no mundo.

No entanto, para o embaixador, a grande dificuldade do Brasil reside na polarização interna e nas divisões políticas, o que dificulta a construção de um projeto nacional. Barbosa defende que um novo documento, mais abrangente que os atuais planos setoriais de defesa, seja criado para discutir o futuro do país. Ele ressaltou a importância de envolver a sociedade civil e as principais instituições no debate, e de estabelecer um projeto de médio e longo prazo, independente das mudanças políticas e ideológicas que possam ocorrer.

A proposta de Barbosa segue uma estrutura baseada na nova geopolítica global e no papel do Brasil como “potência média regional”. Em cinco capítulos, o documento discutiria temas como a economia global, as vulnerabilidades do Brasil, a importância de setores estratégicos como educação e tecnologia e a inserção internacional do país. Para o embaixador, a geoeconomia e a inteligência artificial são alguns dos principais fatores que moldarão a ordem internacional nas próximas décadas e o Brasil precisa se ajustar a essas transformações.

Outro ponto destacado foi a posição do Brasil em relação à segurança interna e externa, com ênfase na defesa da Amazônia e na modernização das Forças Armadas. “O Brasil tem o que dizer no cenário global, especialmente nas questões ambientais”, afirmou Barbosa, ressaltando a importância da sustentabilidade e da segurança alimentar como áreas em que o país se destaca mundialmente.

A crise de produtividade e competitividade do Brasil também foi abordada, com o embaixador apontando que a falta de reformas estruturais, como a tributária e a administrativa, contribui para a estagnação econômica. Para ele, a modernização do Brasil deve ser acompanhada de uma visão clara de longo prazo, que seja capaz de alinhar as políticas internas com os interesses internacionais.

Barbosa concluiu sua participação destacando a necessidade de construir uma “visão de Estado” que vá além das disputas partidárias e ideológicas, e colocou seu trabalho à disposição para colaborar com o desenvolvimento de um documento que possa ser entregue aos candidatos à presidência nas próximas eleições. “O nosso objetivo é discutir o Brasil, não interesses regionais, partidários ou setoriais”, afirmou.

O embaixador concluiu com um apelo à participação de todos os setores da sociedade nesse processo de reflexão e construção do futuro do Brasil, apontando que esse documento poderia ser a base para as grandes decisões políticas e econômicas do país nas próximas décadas.

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